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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O Rei Leão: 20 Anos Depois


Parece que foi ontem que vi na televisão anunciarem aquele que viria a ser um dos filmes animados que mais me encantaria na vida. Uma obra de arte tão sublime, tão bem escrita, tão bem executada, que criar uma réplica exacta daquilo que nos transmite e ensina é praticamente impossível, principalmente nos dias de hoje. Lembro-me de anunciarem a estreia do filme nas nossas salas de cinema, mas tal mensagem passava-me praticamente despercebida, ainda ignorando aquilo que me esperava. Certo é que nunca fui ver O Rei Leão ao cinema, no já longínquo ano de 1994, mas isso não me impediu de deitar as mãos ao VHS que meses depois invadia as prateleiras de qualquer centro comercial. Mal sabia eu, enquanto me colocava em bicos de pés e punha a custo a cassete no vídeo no gravador, que daí a momentos estaria a ver uma peça que viria a mudar a minha perspectiva quanto a questões complexas como a morte, o medo e até mesmo o sentido de responsabilidade.
Não vou dizer que compreendi o filme a 100% da primeira vez que o vi, mas a cada vez que o via ia compreendendo aos poucos a sua mensagem, o que as personagens queriam dizer, os ensinamentos que nos transmitiam. E aos poucos, este filme tornava-se não só uma das melhores obras cinematográficas que a Disney alguma vez fez, como um dos meus filmes favoritos de todos os tempos, que me vou querer recordar até ao dia em que morrer.


Simba é o nosso adorável protagonista: um jovem príncipe de um próspero reino selvagem, que tem um grande futuro pela frente: tornar-se no próximo rei. Mufasa é o carismático líder, que governa as Terras do Rei com grande soberania mas também bondade e sentido de justiça. Scar é o invejoso irmão de Mufasa, um pobre leão que vê o rei e o jovem príncipe como obstáculos na sua conquista pelo trono. Então, Scar, liderando um grupo de hienas, idealiza um plano para matar ambos, conseguindo acabar com a vida do rei e lançar a cria às feras. Pensando que Simba estava morto, Scar assume a liderança, levando o reino a uma era de miséria. Enquanto isso, Simba conhece os engraçados Timon e Pumba e adapta-se a um estilo de vida diferente, largando as suas responsabilidades como verdadeiro rei. Não tarda que o jovem se veja novamente em confronto com os seus demónios do passado, e terá de os combater para que possa aceitar o seu destino como futuro líder das Terras do Rei.
Tudo isto é apenas a camada exterior, um resumo daquilo que vemos neste filme. Contudo, esta obra prima aborda temas extremamente complexos e leva-nos a ponderar sobre a morte e sobre o poder da responsabilidade.


Sim, O Rei Leão lida fortemente com o tema da morte, mostrando uma das cenas mais tristes de sempre no cinema animado: Mufasa morre às mãos de Scar enquanto tenta salvar o filho de uma debandada de gnus, e Simba encontra o corpo sem vida do pai e tenta inutilmente acordá-lo. É uma das cenas mais chocantes e ao mesmo tempo emotivas, e uma das que mais lágrimas fez escorrer dos olhos de muita gente que viu este filme. É aqui que vemos o quão frágil pode ser uma criança que não está preparada para lidar com a morte, por mais valente que se mostre. É aqui que vemos todo o seu mundo perfeito desmoronar-se. A perspectiva que o seu pai era um ser invencível desaparece em segundos, mostrando que até os mais fortes sucumbem. Simba não estava preparado para isto, e ao ver semelhante figura do seu maior herói caído, o pequeno leão apercebe-se que mesmo os mais valentes não estão livres da morte.


Scar é aquela personagem manipuladora. Ele actua nas sombras, examinando as variáveis e tentando arranjar o plano perfeito para se livrar dos seus obstáculos. Desde muito cedo que o vemos a interagir mais com o sobrinho, manipulando-lhe facilmente a mente e colocando-o em situações de perigo. É ele quem convence Simba que é o culpado pela morte de Mufasa, e juntando essa mentira ao impacto da perda do pai, o pequeno leão cresce com esse sentimento de culpa a pesar-lhe e a impedir-lhe de enfrentar o passado.


Com um elenco de personagens que combinam perfeitamente com o enredo, O Rei Leão apresenta-nos uma valiosa lição de vida, que todas as crianças deviam aprender. Não é apenas uma história visualmente bonita com piadas aqui e ali. Não é apenas uma história sobre um leão que se torna rei. É uma história sobre a vida, e de como temos de, mais cedo ou mais tarde, enfrentar os obstáculos que nos surgem durante o nosso crescimento. É uma história que mostra que a vida não é aquele mar de rosas que esperamos que seja, e que eventualmente tudo aquilo que mais amamos e tomamos por certo pode deixar de existir de um momento para o outro. É uma história que nos ensina a aprender com os erros do passado e a lutar por aquilo que realmente queremos e que nos ensina a assumirmos as nossas responsabilidades. É uma história que nos faz ver a morte como parte de um ciclo interminável que todos temos de passar. É uma história que nos ensina o conceito do bem e do mal de uma forma muito melhor executada que muitos filmes hoje em dia.


É por isso que, mesmo passados 20 anos, esta história mostra ter a mesma maturidade e a mesma qualidade que demonstrou quando surgiu pela primeira vez em 1994. É uma história intemporal, que merece ser vista por toda a gente, miúdos e graúdos. Um filme sobre triunfo, mas também sobre tragédia, que vai continuar a fazer parte da minha vida e que espero que os meus filhos um dia vejam e apreciem da mesma forma que eu apreciei nos meus dias de petiz.

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