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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Balas & Bolinhos - O Último Capítulo

Antes de passar à análise do filme citado no título deste post, há-que explicar o porquê de mais de um ano de inactividade neste blog. Acontece que obrigações académicas interpuseram-se no caminho, e pouco ou nenhum tempo tivemos para preparar posts com análises, observações ou opiniões. Felizmente, agora encontro-me mais liberto para poder dedicar mais tempo às coisas que gosto, incluindo este blog.
Bem, terminadas as explicações, vamos ao que interessa.


Ontem à tarde tive o prazer de me sentar na maior sala de cinema do Parque Nascente, em Gondomar, para me regalar com o terceiro capítulo de uma trilogia que conquistou audiências pelo país inteiro. Não é de negar que Balas & Bolinhos tornou-se num autêntico fenómeno cinematográfico em Portugal desde a sua estreia em 2001. Era um filme simples, quase sem história, em que quatro amigos se juntam e planeiam aquilo que esperam ser o melhor assalto de sempre. E é apenas isso. Não é nenhuma obra prima, não é nada merecedor de um Óscar, mas funciona como filme. O quarteto encaixa perfeitamente, e é esse o segredo para o sucesso destes filmes. O Tone (interpretado por Luís Ismael) é o cérebro do grupo, o homem que planeia os esquemas. O Rato (Jorge Neto) é um hiperactivo cuja gargalhada velhaca e o palavreado impulsivo são o alvo de galhofa quase certa. O Culatra (J. D. Duarte) é o playboy do grupo, gabando-se das "gajas" que já "comeu" e fazendo todos os possíveis para engatar o máximo possível. Por fim, o Bino (João Pires) é o drogado do grupo, cujo facto de já nem conseguir articular uma palavra é compensado pelas inúmeras palhaçadas que faz ao longo dos filmes. Com um grupo assim, como poderão as coisas correr mal?
O primeiro Balas & Bolinhos surgiu em 2001 pela mão da Lightbox, e foi bem recebido, apesar do seu pouco enredo e pouca duração. Palavreado rude e obsceno não faltou, e foi essa a fórmula que resultou no sucesso. Tal sucesso valeu-lhes um regresso em 2004 com "Balas & Bolinhos - O Regresso", com uma produção maior, mais apoios, um elenco maior de personagens e, o mais importante, uma história sólida e coerente. Aqui não eram só os palavrões que prevaleciam, mas também a emoção da aventura que o quarteto estava a viver. Acreditando ter em mãos o mapa para um tesouro de valor incalculável, Tone e Companhia viajam por montes e vales, enquanto são perseguidos por três ciganos que querem recuperar o dinheiro que o Rato lhes deve. Para mim, este filme tornou-se uma grande conquista e uma evolução depois do primeiro. Por isso as minhas grandes expectativas quando na tarde de ontem me sentei diante do grande ecrã e assisti à terceira parte desta trilogia. E apesar de ter achado o filme muito bom, a conclusão a que cheguei enquanto pensava nele durante o caminho para casa foi: não superou "O Regresso".
Uma das coisas que eu não gosto é de ser induzido em erro por algo visto pelos meus próprios olhos, e o trailer deste filme fez isso mesmo. Quando vemos o trailer de um filme, normalmente tiramos uma ideia daquilo que esperamos que o filme tenha, tanto em termos de história como de personagens, entre outros aspectos. E o trailer que vi (ou posso considerar um teaser neste caso), induziu-me em erro num dos aspectos que nunca foi explicado. Já irei falar disso.
Um dos grandes problemas deste filme é o facto de ser completamente irrealista de uma ponta à outra. Sim, leram bem. Irrealista. É incrível a quantidade de coincidências que existem neste filme, a quantidade de conveniências e a quantidade de coisas inexplicáveis que tornam o filme impossível. E acreditem quando digo que o trailer é exímio em induzir-nos em erro algo que supostamente vai ser explicado, mas que no filme nunca o é. Falo do cigano Mourito (interpretado por Pedro Carvalho).
Quem viu o segundo filme sabe perfeitamente o que aconteceu ao trio de ciganos que perseguia Tone e Companhia pelas montanhas. Foram liquidados, de um modo bastante anti-climático, por três tiros de pistola e um de caçadeira. Claro que tal não foi mostrado, mas custa a acreditar que tenham sobrevivido. Mas acontece que o Mourito aparece neste filme, ainda atrás do Rato por causa do dinheiro que este lhe deve, e em nenhuma altura é explicado como sobreviveu no filme anterior. Os protagonistas nem ficam espantados pelo aparecimento dele. Já saberiam que ele não tinha morrido? Nada é explicado.
Quem viu o teaser lembra-se perfeitamente da parte em que uma mão aparece no chão à beira de uma auto-estrada, e cenas depois o rosto sério de Mourito aparece à chuva, indicando o seu regresso. Acontece que, depois de ver o filme, ficou constatado que a mão pertencia ao Rato, que se tinha atirado para fora do carro onde ia para fugir de um grupo de índios. Foi uma das desilusões pelas quais me deparei.
A história principal... Bem, devo dizer que tenho um problema com a história principal: por várias vezes esquecia-me da sua existência. Isto porque o filme insere sub-histórias menos importantes pelo meio, mas que duram tanto tempo que acabamos por esquecer que o objectivo do quarteto é encontrar uma mala com dinheiro que o Rato e o falecido companheiro Bifes roubaram, assim como o Tone usar a sua parte do dinheiro para arranjar um fígado novo ao pai (interpretado por Octávio Matos). Sub-histórias essas que incluem a dívida que o quarteto tem para com Mourito, a polícia procurar por Culatra pelo facto deste fazer-se passar por médico, a perseguição dos índios ao Rato para que este case com a filha do chefe deles (interpretado pelo Jaimão) e as capacidades inatas do Tone para o Kung Fu, reveladas logo no início do filme. O maior problema em terem inserido estas sub-histórias foi que elas não têm nada a ver com o enredo principal. Existem apenas por existir, e nunca são concluídas, o que acaba por desapontar.
É parcialmente desnecessária aquela introdução do Tone no início do filme, mostrando o seu Kung Fu para um grupo de bandidos chineses. Digo parcialmente porque mais tarde no filme ele usa tal mestria para combater contra um chinês que deseja efectuar um negócio ilegal contra o suposto vilão da história, um homem chamado Tito, que é o dono de uma empresa de fogos de artifício e o assassino do Bifes. Mas voltando a introdução, o que a torna completamente desnecessária é o facto de nunca ser explicado onde e com quem ele aprendeu Kung Fu, assim como nunca é explicada a sua fluência em chinês. Julgava eu que a história nos fosse levar para um combate contra a máfia chinesa, por exemplo, mas pelos vistos a presença de Jing Mai (interpretado por Jason Ninh Cao) não só foi rápida como não teve peso nenhum nos objectivos do Tone.
Há momentos hilariantes no decurso da história, como o casamento forçado do Rato com a filha do chefe dos índios, tendo o Tone como padre, ou o momento em que o Rato é quase violado por um cigano com nome de cão que espalha com grande javardice bocados de frango da boca, ou o aparecimento do irmão do Tone (interpretado por Francisco Menezes) como um travesti, numa cena em muito baseada na dança do filme Who Framed Roger Rabit. São momentos que nos asseguram grandes gargalhadas, mas que pecam por nos desviar daquilo que realmente importa. A coincidência reina em todo o filme, quando os membros conseguem encontrar-se assim do nada. Como exemplo: o Bino rouba um veículo motorizado a um homem e enquanto foge dá de caras com Culatra, que está a fugir da polícia por ter sido apanhado a fazer-se passar por médico. Os dois conseguem escapar e acabam por atropelar o Rato, quando este ia a fugir dos ciganos. Quem disse que não há coincidências?
No fim, e pela primeira vez em três filmes, o quarteto consegue os seus objectivos. O pai do Tone consegue um fígado novo, e os restantes gozam a boa vida que finalmente conseguem ter, para no fim serem perseguidos por todas as pessoas que os procuraram ao longo do filme.
Com tudo isto, perguntam-me: o filme é mau? Absolutamente que não. Gostaste do filme? Bastante. Juntei-me ao coro de inúmeras gargalhadas que encheram a sala de cinema durante a tarde de ontem, e devo dizer que, apesar das muitas falhas, foi uma tarde bem passada. Para mim, os problemas que este filme comporta tornam-no inferior ao segundo filme. Pudessem interligar as sub-histórias com o enredo principal e teríamos uma história bem interessante e digna de um dos melhores filmes de 2012.

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